domingo, 24 de dezembro de 2017

O SOCIALISMO DE CHUTEIRAS

    Após o término da Segunda Guerra Mundial, o mundo passou a vivenciar as conseqüências da tensão existente entre as duas potências que mais se fortaleceram com o fim do conflito: os Estados Unidos da América e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. A Guerra Fria deixaria marcas indeléveis na geopolítica mundial da segunda metade do século XX.
     
     Elemento praticamente indissociável das ebulições sociais do século passado, o futebol também levou para os gramados os ideais que tingiram um mundo marcado pela polarização ideológica entre capitalismo e socialismo.  Embora pareça estranho pensar nos dias de hoje, quando o futebol é basicamente comandado pelos anseios do mercado, em equipes que representassem os valores de uma sociedade anticapitalista, muitos esquadrões brilharam nos gramados da Europa levantando a bandeira e os símbolos da sociedade idealizada por Karl Marx e Friedrich Engels.
    
     O grande salto da modernização do futebol na União Soviética começou em 1930, no rastro das transformações sociais realizadas por Stálin.  Em 1936, foi criada a primeira liga nacional de futebol, tendo como centro do universo futebolístico a cidade de Moscou. A relação de um estado altamente burocratizado com o mundo do futebol marcaria uma estranha identificação dos países do bloco socialista com o esporte. Muitos clubes tiveram seus nomes alterados. O Orekhovo Sport Club, clube criado por dois irmãos ingleses que trabalhavam em Moscou, teve seu nome alterado, no ano de 1923, por Felix Dzerzhinsky, chefe da polícia secreta de Lênin. Começaria então a ser chamado de Dínamo de Moscou. Este foi praticamente o primeiro de uma série de Dínamos fundados pelos países identificados com as diretrizes de Moscou, simbolizando a importância que a indústria pesada possuía para o socialismo. Kiev, Tsibili, Minsk, Bucareste, Dresden, Berlim e muitas outras cidades também tiveram seus Dínamos desfilando pelos gramados.    

    
    Foram muitas as equipes do bloco socialista que brilharam nos gramados europeus, como o Magdeburg, da Alemanha Oriental, campeão da Recopa Européia de 1973/1974, o Honved, da Hungria, base da seleção que encantou o mundo na copa de 1954, e o glorioso Dínamo de Kiev, time ucraniano que teve inúmeras façanhas e possui uma das mais belas histórias do mundo do futebol. Escrever sobre a relação entre socialismo e futebol demandaria muito mais tempo e pesquisa, pois é uma das mais belas páginas da história do nosso querido esporte. Trago quatro cartelas de equipes que representaram muito bem nos gramados os valores do bloco socialista. 

DÍNAMO DE KIEV 1975 - UNIÃO SOVIÉTICA


DÍNAMO DE BERLIM ANOS 70 - ALEMANHA ORIENTAL 


SLOBODA TUZLA 1971 - IUGOSLÁVIA 


MTK 1973 - HUNGRIA 





sábado, 23 de dezembro de 2017

MAIS QUE UM CLÁSSICO: REAL 92 X BARÇA 82

      Em 1920, o time até então conhecido por Madrid FC recebeu o selo de honra da coroa espanhola e passou a ser chamado de Real Madrid. Sua clara identificação com o governo espanhol chegou ao ápice com a subida de Franco ao poder. O clube da capital passou então a ser um estandarte da ditadura franquista, representando nos gramados os valores de uma Espanha centralista e antidemocrática. 

    Entre os clubes que se opuseram radicalmente ao centralismo espanhol, nenhum deles alcançou a projeção que teria o FC Barcelona. Muito mais do que um clube de futebol, a equipe blaugrana representou como ninguém os anseios e a projeção política de uma coletividade. O Barça desde o começo esteve fortemente ligado à identidade catalã, levando o sonho de uma Catalunha independente para os gramados.

       Um jogo que transcende as linhas do gramado, um confronto que coloca em disputa duas visões políticas divergentes, duas percepções de sociedade conflitantes, que traz em sua história lembranças nunca esquecidas da Guerra Civil Espanhola. Real Madrid x Barcelona é muito mais que um clássico, é um encontro de dois ideais!




     

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

TIMES AUSTRÍACOS NO 3º REICH ALEMÃO

  A incorporação de times austríacos ao campeonato alemão foi uma das conseqüências do Anschluss, projeto expansionista idealizado por Hitler que previa a anexação da Áustria pelo 3º Reich germânico. Em 13 de março de 1938, com a concretização do projeto, três equipes austríacas foram prontamente incorporadas às competições alemãs: o Rapid Viena, o Admira Wie (transformado em Admira-Wacker) e o First Viena.

  Na década de 1930, a Áustria era uma força do futebol europeu graças ao Wunderteam (Time Maravilhoso) idealizado pelo técnico Hugo Meisl, ex-jogador austríaco, e liderado em campo pelos craques Matias Sindelar e Hans Gschweidl. Uma perda irreparável para o futebol austríaco foi a misteriosa morte de Matias Sindelar, maior jogador da história da Áustria, chamado de “Homem de Papel” pela sua leveza em campo, encontrado morto juntamente com sua esposa, que era judia, após ter se negado a jogar pela “Grande Alemanha” na copa de 1938. 
   
  Honrando a força, a habilidade e a inovação tática de sua incrível seleção, as equipes austríacas mostraram seu talento e toda sua bravura nos gramados alemães. O Rapid Viena sagrou-se campeão da Tschammer-Pokal, precursora da copa da Alemanha, em 1938. Cinco anos mais tarde, em 1943, o First Viena também entraria para a história como campeão do torneio. Entretanto, foi no ano de 1941 que o Rapid Viena alcançou aquele que seria o maior triunfo da história do futebol austríaco. Batendo o Schalke 04 por 4x3, na final do campeonato alemão, depois de estar perdendo por 3x0, a equipe austríaca conquistou o título do principal torneio de clubes da Alemanha, desferindo um duro golpe na autoestima do regime nazista e deixando atônitos os mais de 100 mil espectadores que lotaram o estádio Olímpico de Berlim. Apesar de não ter conquistado nenhum título, o Admira Wacker também fez bonito nos gramados alemães, chegando à final do Campeonato Alemão de 1939 quando acabou derrotado pelo poderoso Schalke 04, maior vencedor do futebol alemão no período do regime nazista.

  Para relembrar os feitos dessas três equipes históricas que ousaram desafiar nos gramados um dos regimes mais sangrentos já vistos pela humanidade, trago três artes para botão desses heróicos times austríacos: O Rapid Viena de 1983, dos craques Krankl e Panenka, o First Viena de 1983 e o Admira Wacker de 1996.



quarta-feira, 20 de dezembro de 2017